terça-feira, 19 de janeiro de 2010

C'est la vie!


_ Ele está no necrotério! Assim respondeu a enfermeira daquele hospital em Bananeiras, há nove anos, quando lhe perguntei onde estava o meu irmão.

Apesar dos sinais evidentes, curiosamente eu não havia realizado que meu irmão havia morrido. Apesar da forma nebulosa como me disseram que eu devia ir a Bananeiras nequele dia de natal para tratar de uma queda de cavalo dele; apesar de já escutar os gritos da minha mãe; apesar do olhar de pena daquela enfermeira, aquilo não podia estar acontecendo.

Como morrido? Eu falara com ele na noite anterior. Eu sabia dos seus planos de estudar na Suiça, da sua alegria por ter ingressado há pouco no mestrado; da sua empolgação por ter falado na tarde anterior com a namoradinha paulista... Caramba! Como podia acabar assim?

Bom, eu quis ver o meu irmao no necrotério... Era só o começo... Às 11 horas da manhã, eu estava em Bananeiras olhando o meu irmão deitado em uma mesa de pedra, inacreditavelmente sem vida de tanto que parecia dormir. Às 8h da noite, eu estava em Patos na frente do seu caixão, naquela casa onde passamos nossa infância e onde velamos o nosso primeiro irmão em 94. Entre os dois horários fui a delegacias, falei com juizes, contratei ambulância, resolvi óbito, papelada, passei horas difíceis em um IML em Campina Grande, escolhi o caixão que ele ficaria e levei o meu irmão ao seu velório.

Por volta das dez da noite, já com as lágrimas secas pelos lenços vindos das mãos mais generosas, olhando para os nossos amigos que foram de João Pessoa a Patos, dei-me conta de que aquela era a noite de natal. Tive um certo desconforto, uma sensação de que estávamos atrapalhando. Imaginei que as pessoas podiam ir às suas casas festejar os seus natais, trocarem seus presentes. Podiam nos deixar ali com nossa dor, já haviam feito o suficiente... Os de João Pessoa não deveriam ter ido... Quanto trabalho! Mas ficaram. queriam passar o último natal com Lola. Mesmo daquela forma. Memso ali, no caixão, era ele quem agregava aquelas pessoas, e de repente, percebi que não cabia a mim me incomodar com o transtorno...

Contei essa história algumas vezes. Conto-a normalmente. Instiguei-me a postar essa história porque percebi, numa visita à casa do meu amigo Danilo, onde esse assunto veio à tona, que isso me faz bem de alguma forma. Não sofro para contá-la.

Nunca voltei a Bananeiras e não gosto da idéia de ir lá. Também não compro presentes de natal, me faço de doido e as pessoas, acho que entendem... Depois chego com um presentinho aqui, outro ali, meio à francesa, dá tudo certo...

Quanto à história, acho que gosto de contá-la porque ironicamente é uma lembrança do meu irmão. Não posso dizer que aquele natal foi mais triste do que o do ano seguinte onde nem o corpo dele estava presente. No entanto, percebo uma certa trsiteza no rosto das pessoas a quem eu conto, por isso estou gostando de contar aqui sem ver o rosto de ninguém :o). Lola, na verdade, se chama Walace Filho e é esse aí da foto...

É assim, a vida é assim, e a gente vai levando... Eu não choro a sua morte, parece estranho mas não sinto que ele morreu. Choro sua ausência, choro de saudade, mas também consigo rir muito com as boas lembranças...

C'est la vie!!!

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